Noite a La Mexicana.

Posso dizer que já me havia dado por satisfeita com meu dia aquele dia. Eram 10 horas da noite e estava sentada na rodoviária editando vídeo esperando soar as batidas das 23:30 para subir no busão rumo a Textlan. Já havíamos feito um delicioso mergulho com tanque de oxigênio em Huatulco, pegamos duas caronas – uma de fusca até o cruzamento da estrada e outra num carro super confortável com ar condicionado, que nos fez economizar cerca de 140 pesos cada uma fora o cafezinho de beira da estrada que os cavalheiros nos pagaram. Nesse momento havíamos decidido economizar o dinheiro do hotel viajando à noite de busão segunda classe. Tudo econômico e aventureiro.

Talita foi dar uma volta e veio cheia de novidades, estava havendo uma quermesse em comemoração ao dia dos professores com comes e bebes e dança e gente welcoming. As mulheres estavam lindas com trajes típicos, os homens nos ofereciam cerveja sem parar e ainda tinha o tal pratinho de comida de festa que aqui na verdade mais se parece uma quentinha. Comecei a filmar o baile e achei ótimo nosso fim de noite. Até que, prosa vai, prosa vem, juntou uma turma que nos contou sobre o próximo baile num povoado ao lado, nos convenceu a ficar oferecendo casa, trajes para o evento, bom papo, banho, o que fosse. Olhamos uma pra outra e bom, vamos!

Ficamos na casa da Carmem e do Santiago. A essa altura já não tinha mais bateria na filmadora, a câmera havia caído na água durante o passeio de barco e restava um naco de bateria no celular. Carmem bordava e Santiago era professor de educação física. Tinham 3 filhas, uma de uns 12 anos, a de 16 que desde os 13, quando engravidou, foi viver com a família do marido e a Janete, de 18 anos, com quem fomos ao baile.

Estávamos em Juchitán e em maio é o mês de “Las Velas”, festas em que se homenageiam diversos santos. Originalmente as festas duravam toda a noite como forma de demonstrar lealdade a tais santos. Hoje comemora-se em grandes festas em que cada família possui uma área reservada e tal reunião fortalece o vinculo entre elas.  As pessoas são recebidas com bebidas, comida e cadeiras para assistir aos shows de musica regional. As mulheres devem ir de traje de gala, assim que vestimos os nossos e fomos.

Foi fantástica. Confesso que nunca havia visto nada igual. A cada família que porventura nos amigávamos, éramos recebidas com muita comida e bebida. Entre os povos da região a comida é um símbolo de união. Como explicou Rigoberta Menchú em seu livro auto-biográfico (que infelizmente li em inglês…): “We only trust people who eat what we eat”. Havia momentos em que estava com 3 cervejas na mão – cada um fazia questão de que tomasse a sua cerveja…

//Acesse e assista//http://www.facebook.com/thaismol?v=app_2392950137#!/video/video.php?v=430058625902

Dancei pela primeira vez a tal da salsa, junto, separado, com homens, com mulheres. Podia ficar horas sentada apenas observando os trajes femininos, uma riqueza de cores, detalhes e feminilidade que nunca havia presenciado. Que mulheres divinas!

Lá pela madrugada começou a chover, pelo segundo dia, e voltamos para casa. Chegamos lá e dormimos no colchão de casal que estava na varanda. Todos dormiam por lá devido ao calor, em redes ou colchões. A casa possuía apenas um dormitório, a cozinha era integrada à varanda onde também Carmem trabalhava bordando e havia um generoso quintal na frente e uma vizinha muito simpática a qual Carmem orgulhosamente nos apresentou. Não havia água encanada. Pela manhã, era um domingo e Santiago aproveitava para trabalhar no taxi de seu primo, fomos para a rodoviária. Eram 7 horas e Santiago gentilmente nos levou até o local, falando sobre humanidade e generosidades. Poder confiar, conviver e compartilhar com as pessoas de forma sincera é uma das coisas que mais me fazem felizes nessa vida. Saí de lá com o peito cheio, emocionada  e segura de que somos sós mas não estamos sós.

3 comentários

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3 responses to “Noite a La Mexicana.

  1. Marli Mol

    Chica, que momento bom vc viveu com essas pessoas… faz mto bem ainda acreditar nelas.

  2. Carol Brima

    Que lindo, brima….Chorei….

    Besos e hasta luego!

    Carol

  3. Marli Mol

    Que roupa linda! Aonde arranjou a trança ?Ficou parecida com a Kahlo. Poderosas vcs duas…

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