Colectores.

Cheguei em Oaxaca, terceira maior cidade do México, cheia de atividades culturais, trânsito, gente na rua e uma certa dose de impessoalidade. Linda arquitetura, calor infernal, Monte Alban, albergue cheio, amiga Argentina, chega, vou para Teotitlán. Em 24 horas de Oaxaca larguei a cidade, tomei um taxi coletivo e cheguei à Tule. Fui ver a árvore de 2000 anos. Na verdade fui abraçá-la (não se esqueçam do meu grande  e importante momento hippie), mas ela estava cercada por uma grade. Freun, freun, freun. Como ultimamente nada está me tirando do sério, fui à igreja e fiz uma linda foto minha, acompanhei um casamento no local, aproveitei a grande sombra da dita cuja, tomei umas cacas de passarinho pelo corpo e peguei outro taxi coletivo até o cruzamento onde se entrava para Teotitlán.

Esse pueblo faz parte do primeiro assentamento Zapoteca na região. Parti para lá pois é um dos centros de produção de tapetes desde a época pré-hispânica, quando os teares ainda eram atados às cinturas das mulheres. Pensei, vai que me dá vontade e fico um tempo por lá e aprendo a tecer. Claro que esse tempo teria que ser largo e de cara percebi que se quisesse ser uma tecedora, teria que seguir tecendo, senão ia esquecer tudo. É necessário desenvolver um cérebro capaz de abstrações profundas e uma habilidade com as mãos realmente duradouras. E enfim, idéias são sempre bem-vindas, especialmente as que nos movem de lugar…

Achei uma hospedagem familiar delicadíssima, em que duas gerações de  mulheres que mandam no local: os homens ja se foram desta. Só iria ficar aquela noite e no dia seguinte seguir viagem. Eis que fui amigando dos americanos que aqui estavam (3 de passagem e 2 que moram) e descobri que havia muito mais o que fazer na região, e fiquei mais um dia.

Gentilmente ele me convidou a ir conhecer umas ruínas de um templo na cidade chamada Yagul com sua amiga também americana Merril e suas duas pilhadas cadelas. Construções contemporâneas ao Monte Alban mas que ainda estão sendo restauradas. Diferentemente do tal Monte, os arredores de Yagul são pura natureza, o que exalta a sensação divina que tudo isso evoca. O que me pegou mal no Monte Alban foi o entorno: toda a cidade de Oaxaca e suas construções desordenadas e muitas delas pobres, beirando esse esplendor de apuro estético que os povos antigos tinham…

Pegamos uma trilha que beirava um planalto e que tinha uma inscrição primitiva de lá vai seus milhares de anos… E começamos a caminhar. Eles iam catando pedras no meio do caminho,  achando pedaços de cerâmica e me mostrando. Aos poucos comecei a entender que aquela era realmente uma região onde viveram homens há um par de mil anos, que aqueles restos faziam de fato parte de antigos modos de vida, que o Rick era um arqueólogo, e que sabia do que estava falando. Quando eu me vi, estava andando com um olho no peixe e o outro no gato, achando pedras, cerâmicas, imaginando o que seriam aquelas peças, vendo rastros de civilizações e criando situações de uso, de origem, pensando o que aconteceu por ali, porque aquelas pedras tinham furos, como eram feitos e o melhor, inventando histórias mil com meus dois novos amigos do dia.

JURO, foi uma tarde como nunca passei na vida. Rica, divertida, inusitada e histórica. Dela, me restaram os seguintes tesouros:

  1. Pedra da sorte: esfregava-se o dedo nessa circunferência para evocar bons espíritos, dar sorte; hoje também é usada em cerimônias anti-stress;
  2. Ponta de lança com base e tudo;
  3. Pedra azul, típica do local, também afiada, usada para cortar o que necessário fosse;
  4. Pedra com inscrições primitivas, podendo representar indivíduos de um clã;
  5. Obsidiana verde: rara, ainda não sei das suas propriedades mas é bem conhecida na região: se fosse no Egito, poderia ser confundida com vidro.

Reza a lenda que quando se leva uma pedra de um lugar, é porque se vai voltar, tá danado pois desde o Peru comecei a coletar… a ver!

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